Na última década a violência nas escolas tem preocupado o poder público e toda sociedade, principalmente, pela forma como esta tem se configurado. O conflito e violência sempre existiram e sempre existirão, principalmente, na escola, que é um ambiente social em que os jovens estão experimentando, isto é, estão aprendendo a conviver com as diferenças, a viver em sociedade.
O grande problema é que a violência tem se tornado em proporções inaceitáveis. Os menos jovens, como eu, estão assustados. Os professores estão angustiados, com medo, nunca se sabe o que pode acontecer no cotidiano escolar; os pais, preocupados. Não é raro os jornais noticiarem situações de violência nas escolas, as mais perversas.
Não quero dizer com isso que antes não existia violência. Existia sim, e muita. “Desde que o mundo é mundo, há violência entre os jovens”. Todos os diferentes, para o bem ou para o mal, são vítimas em potencial na escola, há muito tempo. Brigas, agressões físicas, enfim, sempre existiram.
O que não existia antes e, que hoje tornou comum é que os jovens depredam a escola, quebram os ventiladores, portas, vidros, enfim, tudo que é possível destruir, eles destroem. Antes, não se riscava, não murchava ou cortava o pneu do carro do professor. Agredir fisicamente ou fazer ameaças ao mestre, nem pensar. Não se levava revolver e faca e não se consumia drogas e álcool no interior das escolas. No meu tempo, por exemplo, nunca se ouviu falar que um colega tinha assassinado um amiguinho na sala de aula ou que alguém tinha jogado álcool no colega e ateado fogo. Enfim, são muitos os relatos de violência extrema no interior das escolas.
Muitas de nossas crianças e adolescente passam por violências, e ficam calados – algumas delas não têm coragem de revelar, outras, por medo da retaliação do agressor. Essa violência entre colegas não é a única. A violência entre professores e alunos também tem crescido. Assustadoramente, a violência de alunos contra professores é a regra agora, e não mais o oposto. A violência não contra um ou outro, mas contra a escola mesmo, em todos os sentidos e modos, também tem aumentado.
O que tem intrigado a todos é que esse aumento da violência veio junto com a ampliação dos direitos dos cidadãos e com o Estatuto da Criança e Adolescente. Essa é uma questão que não devemos desprezar. No meu ponto de vista, o Estatuto prioriza os direitos em detrimento dos deveres.
Após a promulgação do Estatuto as ações contra a violência nas escolas tem se realizado a partir da mediação, conselhos, etc. O que, também, é muito bom. A mediação de conflitos é importante, necessária, e muitos problemas são resolvidos, mas, muitas vezes, não basta. Junto com a mediação, infelizmente, tem que haver a punição. Vou citar um exemplo que não é do ambiente escolar, mas por analogia podemos refletir sobre essa questão. Por exemplo, o problema de dirigir um veículo embriagado. A conscientização é importante? Sim. Resolve? Não. É necessário fiscalização, multa, prisão, etc.
Não estamos conseguindo resolver o problema da violência nas escolas e, isto é grave. Por quê? Falta, para isso, entendimento, lucidez. Ou seja, falta pensamento crítico, entender o “porque” agir e “como” se deve agir. Com tais perguntas é que os problemas podem ser amenizados. Para resolver, de fato, é preciso sair da mera indignação moral baseada em emoções passageiras, que tantos acham magnífico expor. Aqueles que expõem suas emoções se mostram como pessoas sensíveis, bondosas, creem-se como antecipadamente capacitados porque emotivos. Porém, não basta. As emoções em relação à violência na escola passam e tudo continua como antes. Para isso, não podemos ver o problema da violência sob um só viés. É preciso dialética, racionalidade, determinação e, sobretudo, a união de todos.
Podemos classificar inúmeras questões que levam a violência para o ambiente escolar. Por exemplo, os mais gerais: diferenças sociais, culturais, psicológicas, etc. e tantas outras como: experiências de frustrações, diferenças de personalidades, competição, etc. Também, podemos enumerar vários tipos, áreas, níveis de violência. Cada área do saber tem o seu método próprio de análise, a Filosofia, Sociologia, Psicologia e o Direito. Hoje, sabemos que a tendência da desfragmentação do saber é o melhor caminho a trilhar. Amultidisciplinaridade e a interdisciplinaridade é a proposta em voga de superação da fragmentação do saber. Somente através do dialogo aliado a práxis efetiva é que poderemos amenizar o grau de violência no interior das escolas.
Esse círculo de violência deve ter um olhar mais universal, principalmente, por aqueles que pensam sobre a educação. É necessário ver que a violência contra a instituição escolar, contra colegas e professores e, de certo modo, a violência dos adultos contra as crianças, também, contém elementos de caracterização bem comuns. A não aceitação das diferenças em toda a sua amplitude – se é diferente, é hostilizado, desprezado, humilhado. E quando a vítima reage é violentada.
A não aceitação das diferenças, também, perpassa pela escola como instituição, com seus próprios professores, funcionários e com os próprios alunos. Essa uniformização, isto é, uniformizar o diferente, é feita com violência – em todos os casos. E esse comportamento institucional, gera violência.
Não são raros os casos em que o professor que faz a aula diferente, ainda que seja boa, é admoestado pelo diretor. O diretor que pensa diferente é castrado pelos supervisores ou pelo dirigente regional de ensino e, assim, sucessivamente. O aluno que é diferente, que pergunta demais é admoestado pelo professor e, aquele que pergunta na hora que a aula está acabando é vaiado pelos colegas. Essas são pequenas violências que alimentam as grandes violências. Não reconhecer nesse processo é o nosso grande problema. Atualmente, vivemos um problema ético de não reconhecimento da nossa incompetência, o problema sempre são os outros, eu não.
A escola é o primeiro ambiente social que a criança experimenta, antes disso, ou seja, na socialização primária se restringe a família, igrejas, vizinhos, enfim, um circuito bastante restrito. É na escola, aonde ele vai, realmente, experimentar um ambiente social – lá ele vai aprender a conviver com as diferenças e constituir um ser para si. Esse ser é para a sociedade.
Por isso, a urgência que se tornou essencial hoje – e que muitos não percebem, é tratar a violência na escola como um trabalho de lucidez quanto ao que estamos fazendo com nosso presente, mas, sobretudo, com o que nele se planta e define o rumo futuro. Para isso, é preciso renovar nossa capacidade de diálogo e propor um novo projeto de sociedade no qual o bem de todos esteja realmente em vista.
Tradução em inglês
In the last decade school violence has worried the government and the whole society, especially the way it has been configured. Conflict and violence have always existed and will always exist, especially in school, which is a social environment in which young people are experiencing, ie, they are learning to live with differences, to live in society.
The big problem is that violence has become unacceptable proportions. The less young people, like me, are scared. Teachers are anxious, afraid, you never know what can happen in everyday school life, the worried parents. It is not uncommon for newspapers noticiarem situations of violence in schools, the most perverse.
I do not mean by this that did not exist before violence. There was yes, and a lot. "Since the world began, no violence among young people." All different, for better or for worse, are potential victims at school, long ago. Fights, assaults, finally, have always existed.
What did not exist before and which today became common is that young prey school, break the fans, doors, windows, everything that is possible to destroy, they destroy. Before, not scratched, not wilted or cut the car tire teacher. Physically assault or making threats to master, no way. Do not be led revolver and knife and not consumed drugs and alcohol within schools. In my time, for example, never heard that a colleague had killed a playmate in the classroom or that someone had thrown alcohol colleague and fired. Anyway, there are many reports of extreme violence within schools.
Many of our children go through teen and violence, and are silent - some of them are afraid to reveal other, for fear of retaliation from the abuser. This peer violence is not the only one. Violence between teachers and students has also grown. Frighteningly, violence by students against teachers is now the rule, and not the opposite. Violence against not one or the other, but against the same school, in every sense and manners, has also increased.
What has intrigued everyone is that this increase in violence came with the expansion of citizens' rights and the Statute of Children and Adolescents. This is an issue that we must not overlook. In my view, the statute gives priority rights over the duties.
After the enactment of the Statute actions against violence in schools has taken place since the mediation, advice, etc.. What also is very good. Mediation of conflicts is important, necessary, and many problems are resolved, but often not enough. Along with mediation, unfortunately, there has to be punishment. I will cite an example that is not the school environment, but by analogy we can reflect on this question. For example, the problem of driving a vehicle while intoxicated. Awareness is important? Yes Resolve? No. Is it necessary supervision, fines, imprisonment, etc..
We are not able to solve the problem of violence in schools, and this is serious. Why? Lack for that, understanding, clarity. Ie, lack critical thinking, understand the "why" and act "as" one should act. With such questions is that problems can be mitigated. To solve, in fact, it takes out of mere moral outrage based on passing emotions that many feel magnificent display. Those who expose their emotions show how sensitive people, kind, believe themselves as qualified beforehand because emotive. But not enough. The emotions regarding violence at school and spend everything continues as before. For this, we can not see the problem of violence under one bias. It takes dialectical rationality, determination and, above all, the unity of all.
We can classify many issues that lead to violence for the school environment. For example, the most general: social, cultural, psychological, etc.. and many others as experiences frustrations, differences in personalities, competition, etc.. Also, we can enumerate several types, areas, levels of violence. Each area of learning has its own method of analysis, Philosophy, Sociology, Psychology and Law. Today, we know that the trend of defragmentation is to know the best way to go. Amultidisciplinaridade interdisciplinarity and the proposal is in vogue to overcome the fragmentation of knowledge. Only through dialogue coupled with effective praxis can we lessen the degree of violence within schools.
This cycle of violence must have a more universal, especially for those who think about education. You must see that violence against the school, against classmates and teachers, and a sense of adult violence against children, also contains elements common characterization as well. Non-acceptance of differences across its breadth - if different, is harassed, despised, humiliated. And when the victim is raped reacts.
Non-acceptance of differences, too, pervades the school as an institution with its own faculty, staff and students themselves. This uniformity, i.e. uniformity different, is made with violence - in all cases. And this institutional behavior, generates violence.
There are rare cases in which the teacher who makes the class different, albeit good, is told by the director. The director who thinks differently is neutered by supervisors or by the regional director of education and so forth. The student is different, that question is too admonished by the teacher and the one who asks the time the class is ending is booed by his colleagues. These are small violences that feed major violence. Not to recognize this process is our big problem. Currently, we live an ethical problem of non-recognition of our incompetence, the problem is always the other, I do not.
The school is the first social environment that a child experiences before that, ie in primary socialization is restricted to family, church, neighbors, finally, a circuit quite restricted. It is at school, where he will really experience a social environment - there he will learn to live with differences and form a being for itself. This being is to society.
Hence the urgency that has become essential today - and many do not realize, is to treat violence at school as a work of clarity as to what we are doing with our present, but especially with what you plant in it and sets the future course. For this, we must renew our capacity for dialogue and propose a new design of society in which the good of all is actually in sight.
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